DJ
Alpiste fala sobre carreira, novo trabalho e comenta a tragédia
ocorrida na Igreja Renascer em Cristo, igreja onde o rapper congrega...
LUCIANA MAZZA: Você começou a cantar no gospel na década de 80, correto? Pode contar como foi no princípio?
DJ ALPISTE: Sim. No
início da minha carreira eu fazia o trabalho de DJ. Ficava atrás de
toca-discos montando todo o show, para quem ia cantar. Eu já trabalhava
em casas noturnas antes de conhecer esse pessoal do rap.
Fazia bailes Black aqui em São Paulo, até mesmo antes do hip hop
existir. Não imaginava que depois de alguns anos ia acontecer uma onda
forte de hip hop. E quando isso apareceu o pessoal falava: "Puxa, mas
nós já fazemos isso aqui!" Então houve uma identificação muito grande e
eu peguei o começo de tudo. Acompanhei o surgimento dos primeiros grupos
aqui em São Paulo: Thaide, DJ Hum e Sampa Crew. Sendo que com o Sampa
Crew, tive a oportunidade de andar com eles, bem no comecinho da
carreira e isso foi uma escola. Basicamente eu comecei assim.
LUCIANA MAZZA: Em 1993 você se converteu. Como se deu sua conversão?
DJ ALPISTE: Um amigo
que fazia baile comigo se converteu e veio me evangelizar. E como nós
tínhamos uma amizade muito forte, então ele foi falando de uma forma
legal que me ganhou e eu me senti interessado em ouvir. Me interessei
tanto que um dia fui à igreja Renascer em Cristo, naquelas
segundas-feiras que tinham na sede, que bombava e a rua ficava lotada,
quando o pessoal do Oficina G3 e do Kadoshi tocavam lá. Um dia eu vendo a
Banda Kadoshi tocar lá me converti ali na Lins, também movido pela
música e naquele ambiente tomei a minha decisão. Mas para mim foi uma
decisão duradoura, foi algo que permaneceu. Já fazem 15 anos.
LUCIANA MAZZA: Em falar em Kadoshi, sua primeira experiência no mercado gospel foi junto à banda, não?
DJ ALPISTE: Foi com o
Kadoshi sim, pois quando eu me converti eu não tinha idéia do que ia
acontecer comigo. Eu não sabia dos planos de Deus para a minha vida. Eu
também não tinha nenhuma experiência de letra. Nunca tinha escrito nada.
Nunca tinha cantado um rap e nunca tinha gravado nada com a minha voz.
Fazia algumas coisas com os meus amigos... Mas a minha função mesmo era
ser DJ. E aí eu comecei a escrever algumas letras motivado por ser um
novo convertido. Foi então quando eu escrevi "Ser ou não ser" e mostrei
para o Pastor Silas do Kadoshi. Abordei ele um dia na igreja e falei:
Olha eu tenho uma letra de rap aqui. Quer ouvir? E aí ele me convidou a
ir ao escritório dele para mostrar e começou então uma amizade, eu
mostrei a letra para ele. Ele gostou muito! Tanto que mais tarde esse
foi o primeiro registro fonográfico de um rap gospel no Brasil.
LUCIANA MAZZA: Como foi a transição do mundo secular para o gospel?
DJ ALPISTE: Foi muito
louco. Pois eu já tinha muitos contatos com o meio artístico e
acompanhava todos os tipos de rap, também já tinha feito vários shows
internacionais na época da Black Mad. E estar junto de uma banda como o
Kadoshi, que é referência na música Black era louco. Não é possível
falar de música gospel sem falar em Kadoshi. Foi uma escola muito grande
tanto no lado espiritual como no lado profissional. Eles arrastavam
multidões! Tocavam para 20.000 pessoas. E só pelo fato de poder estar
junto já era um privilégio. E ali foi quando Deus começou a usar minha
vida para dar o testemunho, no show do Kadoshi e também foi aí que
aconteceu toda a avalanche de pessoas se convertendo. E o rap ao mesmo
tempo em que chocava quando entrávamos nas igrejas, tinha um resultado
muito grande, pois víamos as pessoas entregando suas vidas, tinham
ouvido um testemunho ou uma música que quase não existia dentro da
igreja. O retorno espiritual era muito grande!
LUCIANA MAZZA: Era possível rimar com liberdade naquela época? Como você foi recebido nas igrejas?
DJ ALPISTE: Nunca me
preocupei com isso. Eu sempre tive liberdade para escrever! Podia
escrever sobre o que quisesse, tanto que tem uma música que está no meu
primeiro CD que é considerada uma das músicas mais polêmicas que já
cantei no gospel até hoje que é a "Depois do Casamento", uma música que
fala de sexo. E nessa época há 15 anos ninguém abordava esse assunto
para os jovens. Eram poucas as igrejas que permitiam hip hop dentro das
igrejas. A igreja estava começando a se abrir, a se modernizar, mas
alguns assuntos ainda eram tabus. Sexo era um grande tabu! Quando
apareci com essa letra não fiquei preocupado se algum pastor ia gostar
ou vetar, entende? Na época foi um choque da mesma forma que existiam
pessoas que apoiavam tinham outras que não entendiam. Falavam: "Isso não
é de Deus! Aí algumas pessoas perguntavam: Será que esse cara é crente?
Eu costumo dizer que tudo que aconteceu na minha vida na verdade não
foi crédito meu... Deus poderia ter usado a vida de qualquer pessoa e
ele usou a mim! Para que ele pudesse ter a glória! Eu reconheço que sou
pioneiro em algumas coisas, mas também reconheço que eu sou o menor!
Quem tem que aparecer é Jesus! Eu acho que Deus usou a minha vida para
construir algo que hoje nós chamamos de Rap Gospel.
LUCIANA MAZZA: A primeira letra nasceu em 1994, e o primeiro CD "Transformação" em 1997 vendeu 30.000 cópias, é verdade?
DJ ALPISTE: Foi o
primeiro CD de Rap de um artista solo no meio gospel. Foi fenomenal
porque há 10 anos você vender 30.000 CDs era um marco! Era algo bem
louco, era sinal de que estávamos conseguindo alcançar muitas pessoas e o
objetivo era esse.
LUCIANA MAZZA: Houveram críticas a esse primeiro trabalho?
DJ ALPISTE: Eu sempre
fui um cara pé no chão. E sempre preservei o compromisso que tenho com a
minha igreja que é a Renascer em Cristo onde eu me converti. Lá eu tive
muito apoio dos pastores, do Apóstolo Estevam, da Bispa Sônia; ao mesmo
tempo em que eu era muito criticado também eu era muito defendido por
eles. E hoje se eu estou há 15 anos na música, no ministério, é sinal
que tenho coisas boas para mostrar.
LUCIANA MAZZA: Que outros trabalhos vieram depois?
DJ ALPISTE: Depois não
parou mais veio "Efésios 6:12", com mais de 100.000 cópias vendidas, "O
Peso da Palavra" com mais de 50.000 cópias, "Fanático" que depois deu
origem ao "Acústico", que foi o primeiro CD e DVD de rap acústico no
Brasil. Depois desse acústico saiu "Coisas que você precisa ouvir" em
2006, "Pra sempre" em 2007, que ganhou o "Troféu Talento" como o melhor
CD de Rap e o último agora é o "Arrebatador".
LUCIANA MAZZA: Pode falar mais sobre esse último trabalho?
DJ ALPISTE: É uma nova
etapa na minha vida. Eu demorei mais de um ano para fazer todas as
músicas e fiz da forma que eu queria! Com as participações que eu
escolhi! O novo cd "Arrebatador" é o oitavo CD da carreira. Eu mesmo
produzi as músicas e escrevi todas as letras, tem as participações
especiais de Pregador Luo, Lito Atalaia, Mano Reco, Naldo Dee, Marcio
Attack Versos, Rappin Hood e MC Carlinhos, foi gravado no mesmo estúdio
onde fiz meus trabalhos anteriores no "Atelier Studio", pelo Vander
Carneiro, que é quem cuida da qualidade musical dos meus CDs, esse álbum
foi feito sem pressa e aos poucos, para poder obter um resultado bem
melhor que os anteriores na questão de elaboração das músicas e escolha
de repertório. Gostei muito do produto final, me surpreendeu bastante,
espero que a galera goste, pois foi feito com muito carinho e dedicação
para a Glória de Deus. É um trabalho que está muito mais maduro
musicalmente e espiritualmente. Hoje eu consigo ter mais liberdade para
falar de algumas coisas e estou mais focado, sei exatamente a mensagem
que quero passar e o nome é justamente para chamar a atenção das pessoas
para o arrebatamento e o assunto de todo o CD gira em torno disso.
Quero que as pessoas parem e se examinem.
LUCIANA MAZZA: Que trabalhos além do seu você considera referência?
DJ ALPISTE: Na minha
opinião a Banda Kadoshi será sempre uma referência. Eu também gosto
muito da Fernanda Brum, do Toque no Altar. Agora no Black, DJ Alpiste
acho que é uma boa opção (risos). Falando sério eu gosto do Lito
Atalaia, do Silvera, FLG e do Márcio entre outros...
LUCIANA MAZZA: Como você vê o movimento Black hoje no mundo gospel?
DJ ALPISTE: Eu acho que
existe muita especulação. Têm muitos aproveitadores aí no meio. Tem
muita gente querendo comer em primeiro lugar a fatia do bolo que nós
levamos muito tempo para fazer. Colocamos a mão na massa, fizemos a
cobertura e o recheio. E o cara chega no final e quer só comer! Eu acho
que todos têm que ter um espaço, mas cada um deve saber o seu lugar na
fila. Tem um bolo para ser comido, mas tem uma fila, entende?
LUCIANA MAZZA: Quem é o
Alpiste hoje? Você se considera polêmico? O que você aprendeu nesses
anos de carreira? O que você faria novamente e o que você não faria?
DJ ALPISTE: Faria
música e mais música! Por outro lado acho que hoje eu não me atrelaria a
pessoas erradas. Eu não me considero um cara polêmico, mas as pessoas
me consideram. Eu gosto, às vezes, de dar uma cutucada para provocar uma
reação, isso é muito bom. Quando o mar está muito calmo parece
estranho. Às vezes eu gosto de mexer na água para escutar o barulho das
ondas. Eu não ligo muito para críticas não! Sou um cara bem pé no chão.
LUCIANA MAZZA: Quais
são seus planos para esse ano? Você está lançando uma campanha junto a
MR1 Comunicação & Marketing, combatendo a cópia de músicas pela
internet. Pode explicar mais a fundo sua opinião sobre esse assunto? O
que pretende alcançar com essa luta?
DJ ALPISTE: Meus planos são bombar o CD Arrebatador, o meu site http://www.djalpiste.net,
e levar para todo o Brasil a campanha que combate a cópia de músicas
pela internet. Há alguns anos fui alertado por amigos músicos que o
mercado não andava bem devido a pirataria. Comecei a estudar o assunto a
fundo e me surpreendi com a dura realidade que é a pratica criminosa
usada na internet: baixar um CD se tornou mais fácil que comprar uma
cópia num camelô, e esses sites muitas vezes são disponibilizados por
igrejas, o que é muito pior. Essa prática criminosa está prevista em
lei, e é passível de pena de prisão, mas como tudo em nosso país acaba
em pizza resolvi sacudir a mídia, as igrejas e a classe artística junto
com a MR1,agência que cuida da minha imagem, para se mobilizar em torno
de uma luta contra esse crime virtual, o objetivo é a regulamentação em
lei e fiscalização por parte dos órgãos públicos desses sites que
disponibilizam o download pirata, espero que as pessoas criem uma
consciência sobre o assunto e nos ajudem a mudar essa realidade criada
pela internet.
LUCIANA MAZZA: Não
podíamos encerrar essa entrevista sem comentar a tragédia que acometeu a
sede da Igreja Renascer em Cristo. Pode comentar o ocorrido. É verdade
que você teve um livramento?
DJ ALPISTE: 19 de
janeiro de 2009... Com certeza o dia mais triste da minha vida cristã!
Quando cheguei de viagem vindo de Recife, onde estive no fim de semana
fazendo um evangelismo, recebi a notícia do acidente ocorrido na igreja
onde eu congrego e onde me converti... Várias ligações de amigos
preocupados em saber se eu estava no local na hora do acidente... Foi
algo quase inacreditável para mim receber tal notícia... Fica aqui meu
sentimento de solidariedade às famílias das vítimas... Sou filho da
visão apostólica e sei que esse é só mais um gigante que teremos que
derrubar para alcançarmos a benção do Senhor... RENASCER EM CRISTO, nós
te amamos... Paz.
FONTE: Luciana Mazza - MR1 Comunicação & Marketing
Nenhum comentário:
Postar um comentário